quarta-feira, 21 de abril de 2010

Mais devassa

Mais devassa
Gabriela Prado

Não serei o poeta das mentes caducas
Crias de um país que se diz tão moderno
Mas ainda alimenta um falso moralismo
Reprimindo imagens dos que são menos espertos
País dos puritanos de olhar imaculado
Vetam, tarjam ofensas que lhes causam asco
Culpam, recriminam, mas se contradizem
Aplaudindo atônitos a sujeira das mãos que transigem
Vejo na janela de vidro, na sala
Do café à janta, mensagens entorpecentes
Em um quadro mal pintado, tingido por belas histórias 
Por dedos bem pagos, salpicadas minuciosamente
Por um erotismo que se diz dentro do horário
São também devassas, mas essas não te ofendem.
O que se tolera não é determinado
Não pelo bom gosto, nem mesmo por cultura
Bonecos voodoos de publicitários, ou então 
Paus-mandados buscando uma estrutura
Na seita do mercado, fé onipresente
Prega seus mandamentos de forma abstrata
Conquistando servos, sucessivamente
A matéria prima de um povo alienado.