segunda-feira, 20 de julho de 2009

Flor atrás do altar

Flor atrás do altar

Gabriela Prado




13 anos...

Foi mesmo uma boa época, gostaria de ter percebido enquanto era tempo.

Assuntos nostálgicos não levam a bons lugares.


"Jéssica! Ele chegou."


Ele chegou, mas na face de vidro que me encarava não consegui encontrar as exclamações que tenho procurado há meses.

Dizem que perto da morte relembramos o começo.

Meu espírito definhava cada dia mais com a proximidade do acontecimento, e hoje finalmente parecia se entregar. Com isso passei a procurar pelo tal começo, talvez revendo o início de tudo pudesse entender como aqui vim parar.

Mas qual seria esse começo? Começo de que ?

Procurei pensar em uma boa época, as grandes tristezas costumam ter seu início após felicidades excessivamente intensas. Lembrei de meus 13 anos, quando pensei que o amor fosse capaz de me explodir por dentro.


" Jéssica você ainda não está pronta? Já se passaram horas, e você ainda não se arrumou? As pessoas vão entender errado essa sua aparente falta de interesse, mais 15 minutos e nada mais. "


Eu estava pronta por fora, aparência como a que via em meu reflexo era injusta, nunca havia me visto tão bela, nem tão desesperada. Por dentro era crua; Por dentro era menina de 13 anos, escondida atrás das flores, mas o vento soprou, agora ela chorava.

Talvez tenha sido esse o meu começo de tudo, 13 anos.

Ser criança é algo tão valioso, elas tem o dom de peneirar o amor de cada momento, de cada olhar, cada vontade. O ódio e a inveja não se atrevem a pertubá-las, o interesse e a ambição não tem poder suficiente para corrompê-las.

E foi o que eu fiz quando tive minha chance, amei, mais do que devia, mas amei.

Primeiro foram as flores, e no meio delas ele estava me esperando.

Não precisei de mais que um sorriso para entender o que estava prestes a conhecer. Ainda posso sentir cada risada perdida no ar, como um suspiro, um abraço acolhedor.

Depois veio o vento; as flores voaram; ele se foi.

As gotas que escorreram eram tão quentes que fizeram arder minha pele.

Então o outro surgiu, já não havia mais vestígios de pétalas, a dor secou. Era tão fácil amá-lo, foi o que fiz.

É tudo o que tento fazer desde então, infelizmente já era muito tarde quando descobri que às vezes essa facilidade no amar é autodestrutiva, não passa de um campo sem flores, não é feio, mas é tão menos bonito. A graça de um amor real foi soprada da minha história no dia em que as lágrimas corroeram meus olhos, pensei que a dor era algo a se temer, não entendi que era um sinal.

Sinal de vida.

Sinal que não segui.


" Jéssica! Ou desce agora ou te arrasto desse quarto. Seu noivo já está pensando que você desistiu do casamento. Desce menina, você precisa ver que flores lindas ele trouxe para te dar! "


Lindas flores...

Nunca serão tão lindas... Nunca serão as minhas.

Descer é inevitável, olho mais uma vez meu vestido, o branco escorre pelo meu corpo de forma encantadoramente lúgubre, em alguma religiões a cor branca representa o luto, acho justo.

Optei pela carne morta, carne imóvel. Vida demais assusta, morte demais atrofia.

De meu coração já nem restos podia dizer que guardava. 

Não havia sentido, já que não existia mais alguém para aguardar.

Vítima não fui.

A sentença é a consequência para os culpados.

A pena deve ser cumprida. 

Então eu desço.

3 comentários:

  1. Bela forma de transformar silêncios em palavras. Ah, obrigado pelo comentário no meu blog, se não tivesse feito acho que não teria descoberto os teus textos. Já ganhou mais um leitor. Até.

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  2. Gabi!! Muito bom mesmo. Adorei o texto!! Concerteza ganhou mais um leitor!! Estou no aguardo do próximo =]]

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  3. Preciso dizer que sou sua fã, guilhotina?!

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